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sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Eu, Alberto, a colina, a árvore e a capela




Era uma manhã fria de outono nos arredores de Londres.
 
Mesmo assim, decidi sair para caminhar. Vesti o sobretudo negro que não tenho, coloquei o Alberto no bolso e saímos.
 
Caminhar logo cedo pelo campo refresca o corpo - principalmente se o sobretudo é imaginário - e a alma. O ar frio da manhã lembra-me, compulsoriamente, a minha fragilidade e, assim, a beleza da paisagem, naturalmente, se amplia.
 
E - assumo - passeando com a alma embevecida pela beleza da vida, foi que avistei a colina, a árvore e a capela. Não pude deixar de me comover com a cena. Toda de vermelho, a árvore chorava suas lágrimas apaixonadas, que, de sangue, forravam o chão. Tanta tristeza por não poder entrar na capela para fazer sua oração. Por que a haviam deixado de fora?
 
- Ora - respondeu Alberto, pensando que meu desvario era uma pergunta direta - ora, meu entorpecido amigo, é que não conheces a natureza. Não sabes que as árvores estão onde estão e não querem estar em outro lugar. Elas não choram. Tampouco oram. E se orassem, sua oração não haveria de ser mais do que  o que agora vês. Não haveria de ser mais que a paciente aceitação de sua condição de perder as folhas no outono e de recuperá-las na primavera, de se cobrirem de neve no inverno e de se aquecerem no verão.
 
...

Como visse que eu não me manifestava, ousou concluir:

- E assim, não fazendo nada mais do que fazem, continuam sendo belas!  
 
 

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